Há dias em que o trabalho é mais puxado que o normal, tanto na intensidade quanto em horas trabalhadas. Nesses dias, percebo que sempre há um momento onde apesar de estar muito cansado, algo subitamente muda e fico repleto de energia novamente. Parece um jogo de videogame, onde estou com a barra de energia quase esgotada e encontro um item de estamina que restaura na hora boa parte da minha energia. Depois disso, consigo facilmente entrar no fluxo e resolver o que precisa ser feito naquele dia.

Porém, quando encerro o expediente, sinto que preciso fazer algo para compensar todo esse esforço. Afinal, foi merecido! Então costumo assistir um episódio de seriado, por ser algo curto, antes de ir dormir. No final, acabo querendo assistir mais um (ainda mais naqueles que terminam com um cliffhanger) e digo a mim mesmo que como trabalhei mais que o normal, mereço me divertir mais antes de ir para cama. E assim se inicia um ciclo onde no final de cada episódio acontece a mesma coisa.

Depois de uma ou duas horas já estou em um estado meio catatônico, onde não estou realmente curtindo o que estou assistindo. Como o esforço de parar e ir dormir é maior do que o de continuar assistindo, costumo decidir pelo caminho de menor resistência. Fico assim neste estado zumbificado, que chamo “entrar no buraco negro”, até estar completamente esgotado e a opção de ir dormir ser a mais atrativa. É como na história do ‘ainda não dói o suficiente‘, onde a “dor” do sono só ganha quando é mais insuportável do que ficar no sofá assistindo algo.

No cenário acima é possível facilmente substituir os seriados por vídeos do YouTube, videogames, redes sociais (Instagram, TikTok, …) ou outras atividades viciantes. Também podem ser acompanhadas pelo consumo compulsivo de comida (geralmente salgadinhos ou doces) e bebidas. As particularidades variam bastante de acordo com a pessoa, mas conversando com amigos sobre isto, percebi que o padrão é sempre o mesmo.

Como é de se esperar, o dia seguinte não é nada bonito. Acordo me arrastando para fazer o básico da rotina matinal e o novo dia de trabalho já começa o medidor de energia abaixo da metade. No final do dia, bate uma ansiedade por ter produzido menos do que o esperado, gerando novamente um pico de adrenalina que sobe temporariamente a barra de energia, e o ciclo do dia anterior se repete.

Já estive preso nesta bola de neve muitas vezes e preciso ficar atento para não entrar nela novamente. Quando entro, tento sair o mais rápido possível para não causar uma avalanche. A saída é justamente a resposta mais óbvia para a pergunta “o que fazer depois de um dia de trabalho intenso?”: ir deitar e dormir. Se estou muito agitado, costumo tomar um banho para ajudar a desacelerar.

Sei que esta a resposta não é a mais excitante, mas é provavelmente a única sustentável a médio e longo prazo. Parte da minha jornada pessoal para uma produtividade saudável, foi entender que o preço de ficar trabalhando mais horas em um dia é que sobram menos horas para as outras coisas. E que não há como trapacear neste jogo. No máximo, vou criar uma dívida que será inevitavelmente cobrada daqui a alguns meses com altíssimos juros.

Já paguei um preço alto por conta disso e por mais que agora eu tente colocar regras e criar mecanismos para evitar que dias mais longos no trabalho aconteçam, eles eventualmente acabam acontecendo. E está tudo bem. Basta aplicar a estratégia de redução de danos para esses casos: ir dormir e no dia seguinte finalizar o expediente no horário normal ou, se possível, mais cedo.



Comments

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *