Faz alguns anos, toda vez que vou pedir para um autor autografar uma obra, peço também para ele desenhar uma espiral e é surpreendente a variedade e criatividade de cada um. Por causa disso, achei que seria legal compartilhar isso aqui no blog e hoje começo oficialmente mais um projeto (uhul!): Autographo Spiralis, uma coleção de autógrafos com espirais!
O primeiro que vou compartilhar, e até agora o mais marcante, foi quando fiz esse pedido para o Lourenço Mutarelli, no livro A Caixa de Areia, ou Eu Era Dois Em Meu Quintal (editora Devir, 2005), durante a GIBICON Nº 0 em Curitiba. Ele achou a ideia interessante e disse que também gostava muito de espirais. Enquanto começava a desenhar loucamente, conversamos sobre o assunto e comentei que para mim este era o símbolo da vida.
Ao olhar novamente no desenho, vi que ele deixou um espaço vazio em uma certa parte e eu ficava me perguntando, o que será que ele vai colocar lá? Qual o significado deste espaço em branco?
Minha curiosidade não parava de crescer, enquanto isso continuávamos conversando sobre várias outras coisas. Certo momento ele notou que uma amiga que estava comigo usava uma blusa com estampa de gatos, aí nós três começamos a falar do quanto gostávamos deles. Por coincidência, um gato chamado Nanquim tem um papel muito importante nesse livro que estava sendo autografado. Há duas histórias sendo contadas paralelamente nele e, em uma delas, o personagem principal é o próprio Mutarelli, que vai encontrando brinquedos de quando era criança dentro da caixa de areia do Nanquim. Daí o título do livro.
Depois de ter finalizado os detalhes da espiral e parecer satisfeito, ele foi direto para o espaço vazio e o preencheu:
Fiquei totalmente perdido com isso, o que ele queria dizer com este X? Seria um complemento da espiral? Um símbolo matemático? Uma referência a algum outro livro/quadrinho dele que eu não tinha lido ou lembrava? Minha cabeça começou a girar, várias sinapses estavam sendo realizadas enquanto buscava no meu palácio mental qualquer forma similar a esta para tentar achar algum significado. No tempo do relógio, que é bem diferente do palácio mental ou do universo onírico, foram apenas alguns milissegundos do aparecimento do X até o desenho ficar completo, mas aquele pequeno espaço de tempo havia virado uma eternidade.
Por fim, o desenho estava completo e o livro foi empurrado na mesa em minha direção. Peguei o mais rápido que pude e mergulhei minha cabeça na página como alguém emerge na superfície da água em busca de ar. Até hoje não consigo esquecer da surpresa e do quão significativo foi, e ainda é, para mim este autógrafo e seus múltiplos significados.
Toda vez que eu olho para ele, e é uma reflexão que ando fazendo bastante ultimamente, me pergunto: estou me afastando ou aproximando do centro da minha própria espiral?
Nota Mental: Já faz seis anos desde que isto aconteceu comigo, o quanto posso confiar na veracidade da minha memória em relação a sequência dos fatos e pequenos detalhes?
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