O nove sempre estava acompanhado por mais três amigos, mas quando as companhias telefônicas móveis obrigaram a presença de mais um nove, a polícia da imutabilidade gritou que somente grupos de quatro números eram permitidos. O novato passou de primoroso quinto elemento, para abandonado no vácuo.
A partir desta mudança, vários designers (e seus sobrinhos) atenderam aos pedidos de seus financiadores para adicionar este apêndice em um corpo que se acreditava já ter nascido perfeito. Desde então o nove normalmente aparece perdido, sobrando e as vezes até pendurado para fora. Ele se tornou um verdadeiro outlier em um conjunto já previamente decorado. É difícil não olhar para cartões de visitas, assinaturas de e-mail, cartazes e flyers sem uma dor no coração de ver aquele primeiro nove totalmente isolado, impossibilitado de se agrupar. Isso acabou tornando o nove o número mais solitário.
Em nenhum momento alguém questionou a formação dos grupos ou até o seu aspecto estético. O que está memorizado não deve ser alterado! Coitado de quem falar que os números telefônicos móveis tem como principal objetivo os outros entenderem e por isso dividir os nove dígitos em grupos de três é mais simples. Que blasfêmia!
Mas nem tudo precisa acabar na fogueira, toda gosma mental é passível de mudança. Desde o ano passado estou remodelando a minha para não deixar o nove ser o número mais solitário, mesmo que precise desconstruir anos de blocos de concreto de memórias. Ajude a espalhar a ideia de que o nove não precisa ser o número mais solitário.
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