O documentário Serei Amado Quando Morrer (They’ll Love Me When I’m Dead, EUA, 2018), dirigido por Morgan Neville e produzido e distribuído pela Netflix, conta a história do último filme inacabado do Orson Welles, que deveria ser sua grande obra prima: O Outro Lado do Vento (The Other Side of the Wind).

A premissa deste projeto era bem peculiar, Orson queria que fosse um compilado de acidentes divinos (divine accident), nome dado por ele para eventos inesperados que aconteciam durante as filmagens e acabam sendo utilizados. Esses “acidentes” que eram responsáveis por fazer um filme ganhar vida e não parecer artificial. Para conseguir esta façanha neste longa, não havia um roteiro fechado e o mesmo iria sendo escrito durante o processo das filmagens.

Penso que não só no cinema os acidentes divinos são responsáveis por dar mais vida. Se eu presto atenção ao meu redor, ás vezes percebo pequenos acontecimentos inesperados que, se eu aceitar e abraçar, tiram minha rotina da superficialidade. Mas preciso estar disponível para isso.

https://www.youtube.com/watch?v=YWBB8GubPH8|

Durante o documentário, também descobri que Orson fazia algo bem incomum para a indústria cinematográfica em alguns dos seus filmes: certas cenas de uma mesma sequência de ação foram filmadas somente anos depois das originais e colocas dentro do filme como se tivessem sido gravadas juntas. Uma das mais conhecidas é uma cena de um soco e sua reação em Othello (1951), onde a segunda parte foi gravada somente dois anos depois em um local totalmente diferente do original.

Desta maneira era possível que o diretor melhorasse o filme com o passar dos anos, mas sua busca pela perfeição fez com que vários filmes ficassem inacabados, como: Don Quixote e The Dreamers. Esse processo de constante aperfeiçoamento, me lembrou bastante o Leonardo da Vinci, que até pouco antes da sua morte ainda estava trabalhando em obras como Mona Lisa e A Virgem e o Menino com Santa Ana.

Para quem ficou curioso, o filme O Outro Lado do Vento foi finalizado depois de mais de trinta anos da morte do diretor. O projeto foi supervisionado pelo ator Bogdanovich (que participou do longa) e produtor Frank Marshall e lançado pela Netflix no final de 2018, junto com o documentário. Recomendo ver o filme depois de assistir o documentário.


Nota do autor: Estou experimentando aqui um novo formato para as faíscas mentais, escrevendo um texto separado por item, em vez de um único com vários itens. Assim posso explorar mais um tema e fica mais fácil manter uma regularidade de postagens.

Me diga nos comentários o que você achou deste novo formato e se tem alguma outra sugestão.



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