A atual pandemia está sendo “o grande experimento de trabalho remoto que ninguém pediu” (fazendo uma referência ao post do Matt Mullenweg). Por conta disso, Jason Fried anunciou em seu Twitter que iria devolver o valor da compra do livro ‘Remote – Office not Required‘ para quem enviasse o recibo para ele. Achei a atitude muito legal e decidi comprar a edição para o Kindle, só que sem pedir o reembolso.

O autor comentou que apesar do livro ter sido escrito no final de 2013, ainda era uma das melhores referências sobre o assunto. Como estou constantemente estudando sobre trabalho remoto, confirmo que ele continua sendo um dos melhores guias sobre o assunto.

É incrível que em uma área onde muitas coisas ficam obsoletas em apenas alguns meses, quase uma década depois do lançamento do livro, ele continua muito atual. As únicas coisas que soam datadas são as referências a algumas ferramentas como WebEx e Skype, ambas provavelmente sendo trocadas pelo Zoom atualmente.

O objetivo deste texto não é ser um resumo do livro, mas sim uma seleção de alguns itens que chamaram minha atenção nesta releitura.

Saber escrever bem é essencial

No trabalho remoto grande parte da comunicação entre as pessoas é pela escrita, seja em bate-papos (como o Slack) ou e-mail. Por conta disso, é essencial que os profissionais remotos sejam bons escritores.

Dica: Uma ótima maneira de aprimorar esta habilidade é criar um blog e publicar periodicamente. Se você tem um tempo muito limitado para fazer isto, recomendo a leitura do projetos tartarugas, que é a técnica que utilizo para manter este blog.

Comunicação assíncrona

A comunicação assíncrona é uma das grandes maravilhas do trabalho remoto. Para resumir, é um modo de comunicação onde a resposta não é instantânea, podendo demorar várias horas. Acredito que um dos melhores exemplos para comunicação assíncrona atualmente é o e-mail. Este formato exige muito mais de quem está enviando a mensagem, tanto na qualidade da escrita quanto em planejamento, pois a resposta não será imediata.

Essa maneira de comunicação permite que seja possível ter mais tempo para focar no trabalho sem interrupções. Isto também possibilita que pessoas com diferentes fusos horários consigam trabalhar em perfeita sincronia. Para este último cenário, uma das recomendações do livro é que as pessoas de um mesmo time tenham pelo menos 4 horas de trabalho compartilhadas.

Entregar resultados é o mais importante

Em um escritório físico, é muito fácil achar que aquela pessoa que sempre chega no horário, ficando às vezes até depois do expediente, está bem vestida e não fica visivelmente navegando em redes sociais ou sites de vídeos, é alguém muito produtivo. Infelizmente nem sempre isso é verdade e no trabalho remoto é muito mais fácil perceber estes casos pois o trabalho é muito mais mensurado pelo resultado do que pela aparência de quem trabalha.

Essa característica tem um efeito colateral muito positivo: você percebe mais rápido quando alguém não é o profissional certo para um trabalho e pode redirecionar os esforços para encontrar um que seja.

Rotina é essencial

O trabalho remoto permite uma flexibilidade muito maior do que o tradicional, mas se você não seguir uma rotina é muito difícil ser produtivo. Isso significa ter horários definidos de trabalho e lazer. A flexibilidade é justamente não precisar seguir o horário tradicional das 9h até as 18h, com uma hora de almoço ao meio dia.

Além disso, tem várias coisas que ajudam a separar (principalmente psicologicamente) o horário de trabalho. Usar uma roupa (ou calçado) diferente, ir para um canto específico da casa ou até dar um volta no quarteirão toda manhã. Cada um tem que achar qual é seu gatilho mental para ajudar a iniciar e terminar o dia de trabalho.

O problema é trabalhar mais, não menos

Atualmente muitos gerentes tradicionais estão morrendo de medo que seus funcionários fiquem “se distraindo em casa” em vez de trabalhar. Para tentar evitar isso, estão instalando softwares de monitoramento (que fazem uma captura de tela da pessoa a cada X segundos). Infelizmente isso mais prejudica do que traz benefícios, pois deixa explícito que aquela não é uma relação de confiança.

O mais engraçado é que na maioria dos casos, o problema é justamente o contrário: as pessoas trabalham mais do que o normal. O motivo disso acontecer é que trabalhando remotamente, é muito mais fácil voltar a trabalhar a qualquer momento, pois o “escritório” costuma estar apenas a alguns passos de distância.

Esse cenário onde funcionários trabalham mais pode soar como música para muitos gerentes, mas a médio e longo prazo não é nada sustentável pois é a receita ideal para um burnout e vários outros problemas de saúde, tanto mental quanto física. Por conta disso é importante a empresa cuidar para que sua equipe tenha uma rotina de trabalho saudável.

O último livro do Jason, intitulado ‘It Doesn’t Have to Be Crazy at Work‘ (algo como ‘Não precisa ser uma loucura no trabalho’), é justamente sobre a importância de limites saudáveis na rotina de trabalho.

Em vez de falar, mostre o que você fez

Esta é uma das dicas que mais gostei! Como gerente, ao invés de perguntar “o que você fez hoje?” você fala “me mostre o que você fez hoje“. Desta maneira é possível avaliar diretamente o trabalho realizado e fica mais difícil de se perder com coisas irrelevantes.

Gostei também do lembrete de que o trabalho de um gerente é liderar e verificar o trabalho feito.

Contratação

A melhor forma de contratar um profissional remoto é vendo o trabalho que ele já fez e passar um projeto teste (remunerado) para ele realizar.

Novas dicas do autor sobre o assunto

O autor também fez alguns streamings gratuitos sobre trabalho remoto e está sempre compartilhando material sobre o assunto no seu perfil do Twitter.


Nota adicional: Para quem ficou curioso do porque Jason estava oferecendo reembolso, ele explicou que mesmo sendo o autor, era a editora deste livro que detém os direitos autorais. Isso não permitia que ele simplesmente liberasse a versão digital para download, o que teria sido bem mais fácil.



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